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Paraná

10/08/2020 | Concebido por Goioerê

Debate evidencia dificuldades e conquistas de mulheres no esporte

Debate evidencia dificuldades e conquistas de mulheres no esporte

Apesar dos grandes avanços na luta pela equidade de gênero no esporte, as mulheres ainda enfrentam muitas dificuldades para atuarem. O painel “Desafios da Arbitragem Feminina” do Simpósio Paraná Handebol – Árbitros On-line – 2ª Etapa/EAD, realizado no último sábado (08.08), trouxe essa realidade ao reunir quatro referências femininas em suas áreas de atuação para compartilharem suas trajetórias e experiências: Sandra Quadros, Giseli Amantino, Jamile Klanovicz e a ex-atleta olímpica de voleibol e jornalista Paula Hernandez, que mediou o debate acompanhado ao vivo por cerca de 300 pessoas. 

Exemplo de profissionalismo para a nova geração de árbitros do handebol, Sandra iniciou sua carreira em 2000, quando participou da formação para árbitros estaduais. Oito anos depois ingressou no quadro nacional e em 2016 foi oficializada no quadro de árbitros continentais, junto com sua dupla Juliana Lima. Já em 2019 compôs a arbitragem nacional do handebol de areia e em 2020 completa duas décadas de atuação como profissional do apito.

Defensora da arbitragem feminina, Sandra diz que entre as principais barreiras a serem vencidas pelas mulheres está o preconceito e a desconfiança da qualidade técnica para atuarem na arbitragem. “Foi um caminho um pouco árduo, trabalhoso, mais eu sempre persisti. Eu acho que a mulher precisa estar sempre se reafirmando pra se manter na posição de árbitra. Ao longo desse caminho as minhas dificuldades maiores foram, com certeza, o preconceito, por ser um mundo até então considerado masculino. Mas eu sempre soube me impor e sempre soube muito bem o que eu queria dentro dessa carreira. Logicamente passei por aqueles momentos de pensar em desistir, mais isso não aconteceu e hoje cheguei a um nível bem elevado dentro da arbitragem”, relatou.

A Associação Paranaense de Árbitros de Handebol (APAH) tem em seu quadro 141 árbitros ativos, dos quais 34 são mulheres. No cenário nacional, a Confederação Brasileira de Handebol (CBHb) possui 85 duplas em atuação, sendo nove femininas. Já no handebol de areia são 42 árbitros nacionais, dos quais apenas duas são mulheres. 

Diante deste panorama, Sandra sugeriu a quem estava assistindo ao debate para que se questionasse sobre como poderia ajudar as federações a aumentar o número de mulheres na arbitragem. Em seguida deu sua contribuição: “Minha ideia é que em determinadas competições oficiais do Paraná se exija um número de mulheres na arbitragem. Por exemplo, no handebol são 10 duplas, destas pelo menos três precisariam ser formadas por mulheres. Se as federações não tiverem mulheres no quadro de arbitragem terão a preocupação de buscar a qualificação. É algo a se pensar”, declarou.

Vôlei de praia

Formada em Educação Física e Direito, Giseli trouxe sua bagagem de 22 anos no apito, dos quais quatro integra o quadro de árbitros internacionais de vôlei de praia da Federação Internacional de Voleibol (FIVB). No debate, ela expôs os estereótipos que enfrentou ao longo da sua carreira. “Muitas vezes a gente não sofre só o preconceito com o mundo fechado do esporte ou da arbitragem masculina, mas, também, em alguns momentos, com o preconceito do estereótipo feminino por parte das próprias mulheres”, lamentou.

Na sequência relatou a desigualdade de gênero presente no mercado de trabalho.  “Durante a nossa carreira fizemos os mesmos cursos, temos as mesmas provas, o mesmo nível de avaliação, no entanto as oportunidades são diferentes. A mulher hoje dentro da arbitragem, em alguns momentos, tem que provar, provar e provar dia após dia que tem capacidade e condição técnica na posição que ela atua, enquanto que essa cobrança sobre os homens não é feita de forma tão assídua, tão taxativa”, expôs.

Embora tenham sido muitos os avanços, ainda é baixo o percentual de mulheres ocupando cargos técnicos e de gestão em entidades esportivas. “Têm alguns campos que a mulher deve ocupar mais, não sendo só na arbitragem ou na gestão. Porém, a ocupação dessa base de oportunidades tem que ser ampla pra que possamos ter mais condições de trabalhar sem ter que ficar o tempo inteiro provando e demonstrando sobre a capacidade da mulher”, enfatizou Giseli.

De outro lado, a árbitra internacional lembrou que a conotação das críticas às mulheres diante de um erro cometido dentro de quadra se dá no campo do gênero, enquanto dos homens esbarra na falta de capacidade técnica de atuar. Neste contexto, ela recordou de uma ocasião em que acompanhou uma competição de handebol e presenciou a forma respeitosa como os árbitros homens agiam com as árbitras mulheres. “Os árbitros de handebol protegiam muito as mulheres [diante de questionamentos], talvez isso seja um primeiro passo para que as mulheres se sintam seguras para desenvolverem o trabalho delas, se está certo ou errado isso são questões técnicas que a gente vai desenvolvendo com o tempo. Ninguém nasce sabendo apitar, sendo uma grande gestora, sabendo desenvolver uma atividade da melhor forma”, considerou.

Vagas femininas

No contexto da arbitragem feminina do vôlei de praia, apenas três das 10 vagas disponíveis para árbitras brasileiras no quadro da Federação Internacional de Voleibol estão ocupadas. No cenário da América do Sul, 30% das vagas destinadas às mulheres estão preenchidas. “Vejo um panorama de muitas oportunidades, de muito crescimento. As mulheres estão chegando ao quadro internacional capacitadas, preparadas. Um dos pontos mais importantes na minha vida como árbitra foi efetivamente quando eu tive homens se colocando, não na proteção da mulher, mas entendendo que a participação da mulher na arbitragem é necessária”, ressaltou.

Um grande reconhecimento dessa atuação feminina será dado nas Olimpíadas de Tóquio, no Japão, em 2021, quando 25% do quadro de arbitragem do vôlei de praia serão destinados às mulheres. “Pela primeira vez em Jogos Olímpicos teremos quatro mulheres no quadro de arbitragem”, comemorou Giseli.

Persistência

Mesmo diante dos desafios enfrentados diariamente para apitar, a profissional lembra que haverá dias melhores e pede que as mulheres não desistam da arbitragem. “Espero que as mulheres não desistam e continuem sempre refletindo suas práticas. Tentem ser um dia melhor que o outro, porque o dia melhor sempre vem, o domingo melhor que aquele que fomos xingadas sempre virá. Para os meninos, que cada um pratique mais a empatia, não apenas dentro da arbitragem, mais na vida, efetivamente nesta sociedade que estamos precisamos ser muito mais humanos, mais resilientes, tentar se colocar um pouquinho mais no lugar do outro para entender os calos e as dores que a pessoa teve que fizeram com que tomasse determinada decisão em algum momento da vida dela”, exaltou Giseli.

Pesquisa x atuação 

O diálogo entre o campo acadêmico e de atuação na arbitragem é fundamental para que se desmistifique o trabalho realizado pelas mulheres. Tema este que foi abordado pela professora de Educação Física Jamile Klanovicz em sua dissertação de mestrado em Ciências do Movimento Humano ao pesquisar sobre a presença feminina na arbitragem da Federação Gaúcha de Handebol. “A partir da minha pesquisa percebi que a temática da arbitragem não é muito presente em registros históricos e quando constam as mulheres não aparecem, diante disso compreendi a necessidade de conhecer melhor este contexto da arbitragem e como as mulheres estão inseridas, quem são elas e qual a trajetória delas”, disse Jamile, justificando o tema da sua tese.

De acordo com seu estudo, apenas 20% de mulheres compõem o quadro de arbitragem em diferentes níveis comparado ao número de homens, o que atesta o domínio masculino dentro do contexto do esporte. “Se olharmos para alguns anos atrás esse número é expressivo, apesar de ainda ser pequeno. Justamente por ter um percentual pequeno é que as mulheres têm dificuldade de ter uma dupla fixa, o que dificulta a permanência e a ascensão delas na arbitragem”, afirmou Jamile.

Oportunidades desiguais

Outro resultado da sua pesquisa diz respeito às oportunidades, exibindo claramente a desigualdade de gênero entre os profissionais do apito, visto que dificilmente são escaladas árbitras para atuar em finais de campeonatos masculinos, atrelado ao preconceito. Além disso, um dos fatores que colocam a carreira das árbitras em risco, podendo gerar uma aposentadoria precoce das quadras, está relacionado à família, uma vez que historicamente os cuidados com a casa e os filhos estão condicionados às mulheres. “É uma escolha complexa, que está mais presente na relação das mulheres com a família, pois historicamente esses espaços são destinados às mulheres, que acabam enfrentando desafios para conseguir conciliar o trabalho na arbitragem com a família, mais isso, muitas vezes, não as impedem de seguir na carreira”, assegurou Jamile.

Visibilidade

Em relação a como fortalecer a presença feminina na arbitragem, Jamile diz que a melhor forma de ganhar visibilidade é atuando em diferentes competições, para que as mulheres que competem nestes eventos percebam a presença feminina e de alguma forma vejam nestas profissionais uma referência para futuramente também buscarem uma formação como árbitra. Ela também chama atenção para a divulgação massiva dos cursos de formação, a fim de despertar o interesse maior da classe feminina.

De outro lado, Jamile diz que os professores de Educação Física devem tomar para si a responsabilidade de incentivar a inclusão de meninas no esporte. “Enquanto professora da educação básica posso fomentar e incentivar as meninas desde pequenas a entenderem que são capazes e que têm condições de estarem ocupando qualquer espaço e qualquer posto dentro do esporte”, frisou.

Realização

A Liga de Handebol do Paraná (LHPr) promove o Simpósio Paraná Handebol – Árbitros On-line – 2ª Etapa/EAD em parceria com a Associação Paranaense de Árbitros de Handebol (APAH) e o Centro Universitário FAG. O evento visa promover a atualização sobre as principais temáticas relacionadas à aplicação das regras durante uma disputa da modalidade, realizado de forma remota, entre os meses de agosto e setembro de 2020. Ao todo serão desenvolvidos 13 painéis e toda sua programação é gratuita.

 

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Fonte: GOIOERÊ | CIDADE PORTAL | ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO

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